Se há algo hoje em dia no cinema que mais pode-se movimentar no set de gravação esse algo é a câmera: a tecnologia permite já a alguns anos os movimentos mais incríveis na captação das imagens. Uma câmera presa a uma cabeça remota na ponta de uma grua pode descrever movimentos programados e executados por computador, com suavidade e grande precisão. Ou então pode passear através dos mais complicados cenários suspensa suavemente em equipamentos como o Steadicam. Hoje em dia esses movimentos tornaram-se comuns no dia a dia e não surpreendem mais o público – muitos já nasceram na era da computação e dos jogos eletrônicos, que reproduzem em animações movimentos complexos de câmera.
Mas nem sempre foi assim: o cinema nasceu de certa forma como uma evolução do teatro, na realidade trazendo a possibilidade de registrar o que era ali representado pelos atores possibilitando assim sua divulgação para um público bem maior. Ora, esse público ficava sentado confortavelmente em suas poltronas, estático, assistindo o que se passava à sua frente. Assim, nada mais natural do que colocar a câmera, nos filmes, como se fosse o expectador, estática sobre um tripé também estático. Eram os atores ou então seus objetos, como carros, trens, etc.. que se movimentavam, não a câmera. Pensava-se na época que movimentar a câmera poderia confundir o entendimento do público em relação ao que era mostrado. Tal pensamento também passou nos primórdios dessa arte, pela edição: trocar a posição cronológica da captura das cenas confundiria do mesmo modo o entendimento do público.
Dessa forma, mais por esses motivos e menos por motivos tecnológicos nos primeiros filmes a câmera não se movia. Do mesmo modo a câmera reproduzia a sensação de alguém sentado em um local privilegiado na platéia desse hipotético teatro, ou seja, nada de planos próximos, como closes ou primeiros planos e sim uma visão sempre geral, aberta, a mesma que se tem da platéia, onde vê-se um ator falando, mas ao lado dele também muitos outros atores ou elementos que no momento não estão tomando parte alguma na cena. Mais tarde o cinema iria descobrir como levar aquele expectador para cima do palco, literalmente colocando-o “cara a cara” com o ator – no enquadramento de close por exemplo.
A partir daí diversos movimentos foram sendo criados e com o tempo tornaram-se clássicos no cinema. Excetuando-se os complexos movimentos descritos pelos operadores de Steadicam e as cabeças remotas, podemos classificar academicamente os principais movimentos encontrados no cinema e vídeo com alguns nomes e significados, descritos a seguir.
pan
(panorâmica ou panning) movimento efetuado com a câmera horizontalmente, geralmente em velocidade lenta, de um lado para outro. Para efetuar este movimento a câmera pode estar segura pelas mãos ou fixada sobre um monopé ou tripé. Neste último caso, trava-se no mesmo através de uma alavanca, a movimentação vertical de sua cabeça. Com isto, o único movimento efetuado pela câmera é o horizontal, conhecido como pan.
tilt
movimento efetuado com a câmera verticalmente, geralmente em velocidade lenta, de cima para baixo ou vice-versa, revelando algo para cima ou para baixo do ponto de vista do expectador. Para efetuar este movimento a câmera pode estar segura pelas mãos ou fixada sobre um tripé. Neste último caso, trava-se no mesmo através de uma alavanca, a movimentação horizontal de sua cabeça. Com isto, o único movimento efetuado pela câmera é o vertical, conhecido como tilt.
whip pan
(swish pan) o movimento efetuado com a câmera é o mesmo efetuado em pan, porém com velocidade bem maior. A câmera que está enquadrando uma pessoa ou objeto A desloca-se repentina e rapidamente para a esquerda (ou direita), em busca de uma pessoa ou objeto B. Durante este deslocamento, a imagem torna-se borrada, não permitindo distinguir-se pessoas ou objetos durante o trajeto da câmera.
O movimento whip pan pode ser utilizado para indicar passagem de tempo na estória ou então mudança de local. Neste caso, durante a edição (ou montagem na própria câmera, em tempo de gravação), são justapostos dois movimentos de whip pan: no primeiro, a câmera está enquadrando a pessoa / objeto A e desloca-se para a direita (ou esquerda). A gravação é então interrompida na metade do movimento (ou isso é feito em tempo de edição). A seguir, em outra locação, a câmera inicia a gravação (ou idem montagem durante a edição) em whip pan e desacelera rapidamente até enquadrar a pessoa / objeto B. Como, embora borrados, os fundos das imagens nos 2 whips mudam de cor e aspecto no meio do movimento, transmite-se a noção de passagem de tempo ou mudança de local.
pedestal
movimento de subida e descida da câmera ao longo de um eixo vertical. Este movimento , que recebe também os nomes “crane”, “craning”, “boom” ou “booming é efetuado através de uma grua. O nome “pedestal” também refere-se a uma pequena plataforma, encontrada em tripés do tipo fotográfico, fixada à coluna central do mesmo. Permite efetuar um ajuste suplementar na posição final da câmera (altura) após terem sido as pernas do tripé ajustadas. Geralmente possui uma alavanca que pode ser girada, fazendo com que a plataforma suba ou desça, e uma trava para fixar a mesma na posição desejada (ou então somente a trava, sem a alavanca, em modelos mais simples). A cabeça do tripé é presa à esta plataforma. O uso deste tipo de tripé não é recomendado em cinema e vídeo: além de não permitir movimentos suaves com a cabeça, também não permite o acionamento desta alavanca (nos modelos que a possuem) durante a gravação sem o risco de trepidações.
tracking
nome utilizado para indicar a movimentação da câmera quando apoiada em um suporte do tipo dolly (visto mais adiante). O termo alternativo em francês é charriot. Esta movimentação pode ser de vários tipos, como para frente (forward ou dolly in), em sentido de aproximação ao objeto / pessoa ou para trás (backward ou dolly out). O movimento para frente é utilizado geralmente para chamar a atenção do expectador sobre um determinado assunto, para preceder a introdução de um novo personagem em determinada cena e para indicar a gravação a partir de um veículo que se move para frente (point-of-view), entre outros. O movimento para trás é utilizado geralmente para revelar elementos que compõem determinada cena, diminuir a importância do objeto/pessoa focalizado ou indicar a gravação a partir da parte de trás de determinado veículo, entre outros.
O movimento pode ser também transversal (transversal ou truck), onde a câmera é deslocada lateralmente em relação ao seu próprio eixo. Quando os trilhos são curvos, descrevendo um arco em torno da cena a ser gravada, o termo utilizado é arc ou circling. O movimento transversal é utilizado, entre outros, para revelar o ambiente onde as pessoas/objetos, para mostrar seus vários lados (destacando sua tridimensionalidade) ou simplesmente passar através da cena.
Um “dolly” efetuado para frente (ou para trás) é diferente, no resultado final na imagem, de uma aproximação efetuada com a lente zoom. Além da lente zoom não alterar a perspectiva (tamanho aparente de um objeto em relação a outro), somente aumentar ou diminuir as proporções de maneira uniforme, existe uma diferença em relação ao cenário focalizado. Com a câmera efetuando um movimento de “dolly” aproximando-se de uma pessoa por exemplo, o cenário à volta passa lateralmente, em cima e embaixo em relação à câmera, para trás. No mesmo movimento efetuado com a lente zoom, as partes todas aparecem na imagem como se movessem para fora da tela, em todas as direções.
Um “dolly” efetuado com movimentação lateral da câmera (transversal) é mais ‘presente’ do que a simulação do mesmo movimento através de uma panorâmica (pan). Enquanto esta é ‘passiva’, o “dolly” lateral participa mais da ação, acompanhando o movimento dos personagens lado a lado.
travelling
nome dado ao movimento de tracking do tipo transversal onde, além da câmera se deslocar, também a pessoa / objeto faz o mesmo. Um uso típico é por exemplo acompanhar a caminhada de duas pessoas conversando, ao longo da calçada de uma rua.
boom
(booming) nome dado ao movimento do tipo pedestal efetuado com a câmera.
crane
(craning) nome dado ao movimento do tipo pedestal efetuado com a câmera e também ao suporte semelhante ao dolly, porém com sua haste podendo atingir até 15 metros de comprimento.
dolly (truck)
nome dado ao conjunto tripé + rodízios; podendo correr livremente ou guiado sobre trilhos, o conjunto (que pode ser mais sofisticado e incluir uma plataforma na qual os rodízios são fixos e o tripé é colocado sobre a mesma, ou mais ainda, onde a partir desta plataforma parte uma haste com até 4 metros de comprimento, suportando a câmera e/ou operador em sua extremidade) permite efetuar movimentos suaves de deslocamentos laterais ou para frente e para trás com a câmera. A trepidação é evitada se a superfície é lisa e plana ou então se são utilizados trilhos para guiar as rodas.
dolly in
outro nome dado ao movimento de tracking tipo forward efetuado pela câmera montada em um carrinho (dolly).
dolly back
outro nome dado ao movimento de tracking do tipo backward efetuado pela câmera montada em um carrinho (dolly).
dolly out
movimento da câmera montada em um carrinho (dolly) onde a mesma abandona o enquadramento de uma pessoa / objeto, verticalmente, horizontalmente ou em diagonal. Este movimento combina o movimento dolly back com a movimentação da câmera passando a apontar para outros locais da cena. Enquanto que no movimento dolly back a pessoa / objeto mantém-se enquadrados, no movimento dolly out este enquadramento deixa de existir, à medida que a câmera afasta-se dos mesmos.
roll
movimento efetuado com a câmera em torno do eixo de suas lentes.
Uma parceria com ::Fazendo Video
Comments