O mixer é aquele aparelho que você vê perto do palco, em alguns shows ou afastado dele, em shows realizados em grandes locais, como estádios. Também deve ser familiar a você a imagem de estúdios de gravação, no qual fotógrafos adoram clicar artistas envolvidos em seus recentes projetos, bem ao lado de um painel imenso cheio de chaves.
Para quem não conhece, à primeira vista o painel de um mixer, sobretudo se tiver muitos canais, pode lembrar o painel do teto da cabine de um avião a jato. O que também, automaticamente, significa “coisa complicada”. Porém na verdade não é: o funcionamento de um mixer é simples.
Existem versões portáteis, para uso em campo, funcionando com baterias: ali podem juntar-se 3 canais de microfones em direção a uma câmera gravando um conjunto que toca na praia; por outro lado, as versões de estúdio conseguem juntar dezenas de canais. Pois essa é sua função primordial: “juntar” canais, o que em outras palavras significa reunir o sinal de áudio de diferentes fontes, tendo como saída principal uma única fonte. E o papel daqueles botões todos é, basicamente, fazer alterações, ajustes individuais em cada canal antes de juntá-lo aos demais.
Se observarmos o painel de qualquer mixer com mais atenção, veremos que a grande quantidade de botões está disposta de maneira algo simétrica, lembrando linhas e colunas. Um olhar ainda um pouco mais atento perceberá que a maioria deles está disposta em fileiras – as colunas. Na realidade o que significam essas fileiras de botões? São os canais com os quais o mixer trabalha: cada fileira, grosso modo, pertence a um canal de entrada (claro, existem outros botões e controles, mas iniciamos aqui pela parte principal do mixer, onde temos o controle individual de cada canal. É por isso que se diz, em termos de mixers, que entendida uma fileira de botões, entende-se praticamente todo o resto do aparelho.
Normalmente os mixers trabalham com 2 tipos de sinais: mike level e line level, o mesmo que sinal de linha e sinal de microfone. O próprio nome na versão em inglês dá a dica do que isso vem a ser: level (nível) refere-se à intensidade do sinal que percorre o fio. Microfones geram sinais muito fracos, da ordem de milésimos de Volt. Já os demais sinais, como os que saem de um CD player por exemplo são bem mais intensos, da ordem de 0,7 a 2 Volts. Os do primeiro tipo são chamados mike level e os do segundo, line level (ou, como vimos, linha e microfone).
Um mixer pode ser do tipo passivo, quando não permite nenhum controle sobre os sinais misturados (a não ser um controle opcional de volume, para abaixá-lo), ou então do tipo ativo, quando este controle é possível. O mixer passivo mais elementar possível usa um cabo “Y” permitindo converter sinais estéreo em mono.
Existem modelos de mixers passivos de pequeno porte que podem ser utilizados ligados diretamente à câmera, no formato de uma pequena caixa. Nela existem geralmente 2 entradas para microfones externos e uma entrada adicional para sinal do tipo line level (proveniente de um CD player por exemplo).
Mixers do tipo ativo podem ser do tipo mike / line (desenhados especificamente para uso em vídeo e áudio produção) e do tipo DJ (desenhados para uso em danceterias por DJs, mas aproveitáveis em algumas situações para pós-produção de vídeo).
Um mixer do tipo mike / line desempenha 3 funções básicas: uniformiza as entradas, para que seus sinais elétricos fiquem no mesmo nível (microfone e CD-player por exemplo), ajusta o nível dos sinais individualmente de acordo com o efeito desejado (por exemplo diminuindo a música de fundo e aumentando o microfone do locutor) e mistura estes sinais resultando em um único sinal de saída.
Estas funções são desempenhadas por botões controladores de intensidade de volume (chamados potenciômetros, ou pot), chaves liga-desliga e chaves seletoras. Existem diversos tipos de mixers, e a quantidade de canais (entradas) misturados pode variar de 2 a um grande número.
Observando-se o painel de um mixer veremos a presença ali de 3 setores: o setor de entradas, o de saídas e o setor dos controles individuais dos canais. O caminho percorrido pelo som dentro do mixer começa pela sua entrada, que pode ser basicamente de dois tipos, mike level e line level . Entradas do tipo mike level ocupam somente 1 canal (são mono). Repare no plug de um microfone comum (não o modelo profissional, que possui 3 pinos) e verá ali um pino com 1 divisão na ponta – o plug estéreo, desse tipo, possui 2 divisões, como os de fones de ouvido por exemplo. Já as entradas do tipo line level podem ocupar 1 ou 2 (mono ou estéreo) canais.
Sinais do tipo mike level podem ser balanceados ou desbalanceados. Microfones comuns enviam seu sinal através de um cabo contendo 2 fios; este é o tipo desbalanceado (plug com 1 divisão descrito acima). Microfones utilizados no meio profissional utilizam um terceiro fio a mais, com a fase do sinal invertida, para minimizar interferências: sua conexão se faz através do plug de 3 pinos descrito acima, denominado XLR.
A entrada de sinais balanceados no painel do mixer é feita através de conectores-fêmea do tipo XLR ou do tipo 1/4 pol / estéreo. A entrada de sinais desbalanceados é feita através do mesmo tipo de conector-fêmea do tipo 1/4 pol / estéreo.
Sinais do tipo line level (CD players, teclados, etc…) entram no painel do mixer geralmente através de 2 conectores-fêmea do tipo 1/4 pol mono ou então do tipo RCA, um para o canal esquerdo e outro para o direito (se o sinal for do tipo estéreo) ou apenas um deles, se for mono.
A partir deste ponto, cada entrada pode ter seu sinal manipulado pelos controles do mixer. Dependendo do tipo, modelo e sofisticação do aparelho, podem ser encontrados mais ou então menos controles para cada canal, dando maior ou menos flexibilidade em seu ajuste. Os mais simples, ou não possuem controle algum (mixers passivos do tipo Y por exemplo) ou possuem apenas os botões de controle de volume. Os mais complexos possuem vários botões para efetuar ajustes diversos no áudio de entrada de cada canal. Vamos descrever a seguir os controles mais comuns em mixers de média complexidade, encontrados em videoprodução.
O primeiro controle que encontraremos é o Low Cut Filter, destinado ao sinal de microfones, uma chave do tipo on/off que permite ligar ou desligar o filtro que retira do sinal sonoro qualquer frequência abaixo de 75-80Hz. Estas frequências baixas são características do ruído causado pelo vento nos microfones ou então por motores de aparelhos como ar-condicionado por exemplo.
O próximo controle é o Trim (ou Gain ou Mike level), botão giratório do tipo potenciômetro no painel. O Trim age em conjunto com o Fader do canal, e este faz basicamente a função de “controle de volume do canal”. O sinal do microfone é amplificado pelo mixer até tornar-se do tipo line level. Quando aumentamos o volume do som captado por um microfone através de um amplificador comum, a partir de certo ponto começarão a ocorrer distorções. Através do Trim, é possível então cortar essa faixa de volume com ruídos: se a variação de volume vai de 0 a 10 e a distorção começa em 8.5 e vai até 10, com o Trim limita-se o volume máximo em 8,5.
Este controle aparece, dentro do setor de entradas e saídas, somente nas entradas correspondentes a microfones. Para facilitar o ajuste, ao lado deste controle existe um LED (Peak) que se acende quando existe distorção.
O controle Aux Send (Auxiliary Send, controle do tipo chave-seletora) permite direcionar o sinal do canal para outros destinos diferentes da saída principal do mixer, como fones de ouvido, decks de gravação, etc… Além disso, o sinal pode ser roteado para uma saída específica no painel do mixer, onde pode ser ligado um gerador de efeitos especiais por exemplo. O sinal sai do mixer, vai para o gerador e retorna por uma entrada específica, geralmente ao lado da entrada por onde saiu.
Uma das funções mais importantes em um mixer é a possibilidade de ajustar a tonalidade do som, através do equalizador (EQ), individual para cada canal. Assim, encontramos controles giratórios do tipo potenciômetro que regulam a intensidade de frequências baixas (Low ou Bass), médias (Mid) e altas (Hi ou Treble) no canal.
O controle seguinte, Pan (do tipo potenciômetro giratório) permite fazer com que o sinal do canal em questão seja deslocado totalmente para o lado esquerdo da saída estéreo do mixer, totalmente para o lado direito ou então colocado em qualquer posição intermediária entre os dois.
O próximo controle, Mute (do tipo chave on/off), faz com que o canal fique mudo, ou seja, omite sua entrada. Consequentemente, o sinal deixará de fazer parte da saída do mixer. Em alguns mixers, quando se aciona este controle o sinal ao mesmo tempo que é cortado da saída, é direcionado para uma saída especial através da qual pode ser monitorado através de fones de ouvido pelo operador (monitoração individual de canal).
O controle Solo (chave on/off) ao ser acionado, faz com que o único som presente na saída monitorada principal do mixer (conexão para fone de ouvido) seja o do canal em questão, interrompendo-se todos os outros e facilitando com isso eventuais ajustes do mesmo.
O Fader pode ser de dois tipos, botão giratório ou deslizante, controlando o volume (ganho) do canal. Como cada entrada possui seus próprios controles, as entradas do tipo line-level estéreo possuem 2 controles do tipo Fader, um para cada canal (esquerdo / direito).
Finalmente, a saída de som do mixer: geralmente 1 ou 2 conectores-fêmea do tipo 1/4 pol estéreo ou então do tipo XLR, mas podem existir mais saídas. Existem ainda dois controles para regular o volume principal de saída do mixer (volume master) e uma saída para fones de ouvido, monitorando a saída principal, juntamente com um controle para regular seu volume.
O nível do sinal que sai do mixer no entanto não pode estar acima de determinados limites, além dos quais começará a haver distorções. Para monitorar esse fato, o mixer dispõe de medidores de intensidade de volume (Peak indicators), que podem ser tanto do tipo VU meter (Volume Unit), digital ou do tipo LED – este, menos preciso.
A quantidade de entradas (mike ou line level) em um mixer varia bastante, existindo desde mixers que só possuem um tipo de entrada até os que possuem algumas entradas de um e outras de outro tipo.
O mixer do tipo DJ possui semelhanças com o mixer ativo mike / line, porém com alguns tipos de controles a menos e outros geralmente não existentes no mixer ativo mike/line. Um dos controles típicos do mixer DJ é o Cross-fade, que permite abaixar gradativamente o som de um canal e aumentar o de outro.
Devido ainda às características do meio onde o mixer ativo DJ é utilizado normalmente (clubes e danceterias por exemplo), suas entradas de som do tipo line level são sempre do tipo estéreo. Outras características dos mixers ativos DJ são os Cue circuits (saída para fone de ouvido com uma chave seletora de canais ao lado) e o ducking circuit (diminui automaticamente o volume do canal de música quando o DJ fala ao microfone).
Veja então, que o que aparenta complexidade à primeira vista, não é tão complexo assim: na verdade o que se tem são diversos botões e chaves, repetidos, para cada canal individual do mixer. Mixer: um aparelho fundamental em capturas multicanais.
Uma parceria com ::Fazendo Video (texto)
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