Antes de pensar no que um bom tripé deve ter, poderíamos pensar o que um bom tripé deve fazer. E a resposta é: estabilizar a imagem. Desde os tempos da fotografia e dos primórdios do cinema, com seus tripés de madeira, a idéia era evitar as imagens tremidas e/ou borradas inevitáveis em determinadas situações. Em fotografia quando se usa uma velocidade baixa de obturador e deseja-se que a imagem não saia tremida é necessário o uso de um tripé. E em cinema e vídeo o objetivo também é evitar as trepidações, com o fator adicional do movimento da imagem. O tripé de vídeo (nosso objeto de estudo aqui) possui, como diferencial do tripé fotográfico, a capacidade de poder movimentar a câmera para a direita e para a esquerda (pan) e também para cima e para baixo (tilt). Essa é a primeira característica que deve ser observada por quem adquire um tripé pela primeira vez. Apesar do tripé fotográfico também permitir movimentação da câmera, esta ocorre somente para ajudar no enquadramento da imagem. É por isso que esses tripés não são construídos pensando em incorporar o movimento à imagem: seu mecanismo é geralmente muito simples, servindo somente para soltar e prender a câmera na nova posição e não para propiciar uma movimentação suave para ela. Outro inconveniente do tripé fotográfico é que como as câmeras fotográficas costumam ser mais leves do que as de vídeo sua construção geralmente é menos robusta, ou seja, o tripé suporta menos peso (é mais frágil).
Antes de prosseguirmos com o assunto tripés, vale a pena mencionar o parente mais “básico” dele, o monopé. Como o nome diz, ao invés das três pernas do tripé aqui só existe uma: ele é muito semelhante ao que seria obtido se retirássemos 2 das pernas de um tripé, restando somente uma haste com a estrutura de fixação da câmera na ponta. E qual a sua utilidade? Grande parte da trepidação involuntária transmitida às câmeras provém de movimentos verticais, outra de movimentos horizontais. O apoio da câmera sobre uma única haste, a do monopé, ajuda a eliminar parte desses movimentos. Os movimentos involuntários horizontais serão pouco ou quase nada notados se o ajuste da objetiva estiver em grande angular. Ainda que não permita o tilt e não possa ser abandonado sozinho, o monopé (com extensão ajustável em alguns modelos) pode ser opção em situações onde não haja espaço ou a câmera tenha que mudar de lugar com frequência, como no meio do público que assiste uma apresentação por exemplo. Com a possibilidade ainda de poder ser elevado acima da cabeça das pessoas: basta girar o visor LCD da câmera para baixo e manter o ajuste em grande angular.
Voltando ao nosso tripé: no segmento profissional, na maioria das aplicações não existem restrições quanto ao peso ou volume a ser transportado. Já nos demais segmentos este quesito pode ser de fundamental importância. Ainda mais se considerar-se a possibilidade de viagens. É possível encontrar tripés com pernas confeccionadas em diferentes materiais: alumínio, aço inoxidável e fibra de carbono são os mais comuns. Devem ser preferidos os que somem leveza e resistência. Por outro lado é fundamental verificar a carga máxima suportada pelo tripé e o peso da câmera que se deseja utilizar.
Mas não só em termos de tipo de material os tripés variam: suas pernas, com tubos em perfil triangular, retangular ou cilíndrico, são compostas por seções encaixáveis umas dentro das outras, permitindo a regulagem da altura da câmera. A altura máxima atingida varia, mesmo porque isso se deve ao tipo de aplicação a que o tripé se destina – alguns tipos, geralmente encontrados no meio profissional, são próprios para o trabalho com câmera baixa por exemplo, permitindo a captura de imagens a pouca distância do solo. Diversos outros ajustes podem ser encontrados no tripé como um todo. Isso tudo, juntamente com as diferentes dimensões que cada um pode ter, leva a uma importante observação: antes de adquirir um tripé, deve-se ter em mente qual ou quais as situações em que o mesmo será utilizado na maioria das vezes. Feita essa observação, podemos analisar outras características dos tripés.
As seções que compõem as pernas ajustáveis podem, na maioria dos modelos, ser fixadas em qualquer ponto em meio a seu trajeto, através de travas (alavancas levantadas / baixadas ou anéis que giram) que ao serem acionadas interrompem o movimento de uma seção dentro da outra. Através desse tipo de ajuste, os tripés mais simples podem ser nivelados. E por falar nisso, qual a importância do nivelamento? Pense em uma panorâmica que começa mostrando o horizonte perfeitamente paralelo à parte de cima e inferior do quadro de imagem e que termina com esse horizonte inclinado, “caindo” para um dos lados… percebeu? Isso é o que acontece com o tripé desnivelado…
Para ajudar na tarefa de nivelamento, muitos tripés possuem um nível de bolha (miniatura do que os pedreiros usam) fixado na estrutura superior que une as 3 pernas. Acima desta estrutura encontra-se a cabeça do tripé, que pode inclusive, nos do segmento profissional, ser adquirida à parte. A cabeça é composta basicamente por três partes: a superior, que serve para prender a câmera, a intermediária, através da qual são possíveis os movimentos de pan e tilt e a inferior, que fixa-se em uma base (o pedestal) montada sobre uma coluna enxaixada no topo da estrutura de junção das pernas do tripé. Esta coluna pode, na maioria dos tripés, ser ajustada para cima e para baixo, geralmente através de uma alavanca giratória que atua sobre um mecanismo de cremalheira (dentes). O pedestal pode ser então ajustado e fixado na altura desejada. Em alguns modelos mais simples esta coluna não existe ou então possui uma estrutura simples, com pequenos ajustes básicos.
Nos tripés mais antigos o encaixe (cabeça – pedestal) era fixo, exigindo às vezes um demorado trabalho de ajuste sobre cada uma das 3 pernas para conseguir nivelar adequadamente o tripé, mesmo com o nível de bolha citado.
Nivelar o tripé tornou-se mais fácil no entanto desde que surgiu o encaixe cabeça – pedestal móvel, montado em uma estrutura de esfera, o chamado ball level . Solta-se uma presilha e a base da cabeça do tripé fica totalmente livre para mover-se para frente, para trás e para os lados. Prende-se a presilha, e esta base volta a ficar imóvel. Existe então um segundo nível de bolha, montado na estrutura da cabeça, para permitir o nivelamento correto. Assim, é possível, em poucos segundos, nivelar a câmera de maneira totalmente independente das pernas do tripé.
Em diversos modelos a coluna do pedestal desliza para cima e para baixo dentro de outra coluna um pouco maior, que prolonga-se para baixo do local de junção das 3 pernas até um ponto situado próximo à metade da altura máxima atingida pelo tripé quando todas as suas pernas estão totalmente estendidas. A partir deste ponto, 3 braços radiais saem em direção às pernas, prendendo-se ao final de cada seção principal do tripé. Estes braços conferem maior rigidez e estabilidade ao conjunto. Outra característica que confere estabilidade e que nem todos os tripés mais simples possuem é a base em forma de estrela, que une as 3 pontas inferiores das pernas do tripé. É possível colocar-se pesos sobre ela ou até mesmo apoiar o pé. Em modelos onde não existe essa base, pode às vezes ser encontrado na parte inferior da coluna do pedestal um gancho, que permite também que pesos sejam ali fixados.
Os pés são responsáveis por suportar o peso de todo o conjunto (câmera + tripé), sendo confeccionados geralmente com o materiais derivados de borracha. No entanto, como o tipo de piso onde o tripé será instalado pode variar bastante (concreto, assoalho liso, grama, etc…) alguns modelos oferecem a opção de se trocar esses pés, de borracha para pontas metálicas por exemplo, sendo esta troca em alguns tipos facilitada através de mecanismos que fazem com que essas pontas sejam retráteis.
De uma ponta à outra chegamos novamente ao topo: uma característica interessante é o quick release. Em determinado momento da gravação pode ser necessário retirar a câmera do tripé para gravar alguma cena com a câmera na mão por exemplo. Soltar o parafuso que prende-a ao tripé pode ser demorado: que tal se uma parte do tripé pudesse ser destacada facilmente? Essa é a idéia do quick release. Uma pequena plataforma, parte do tripé, é afixada na base da câmera e pode ser destacada do conjunto com rapidez e facilidade através de uma trava do tipo alavanca, liberando o conjunto câmera + plataforma.
O mecanismo da cabeça do tripé permite efetuar os movimentos de tilt e pan; é comum encontrar aqui pequenas alavancas que travam um desses movimentos em determinada posição, por exemplo eliminando o tilt.
Na parte central dessa cabeça encaixa-se seu principal controle, a alavanca de pan / tilt. Em alguns modelos essa alavanca possui em sua extremidade uma manopla giratória, que pode ser utilizada para travar totalmente toda a movimentação do tripé. Em outros modelos existe a possibilidade de se remover e instalar a alavanca na frente ou atrás da câmera (permitindo assim adaptação a diferentes modelos e tamanhos de equipamentos), assim como do lado direito ou esquerdo (facilitando a operação por destros ou canhotos).
Mas é o movimento dessa alavanca o assunto mais importante quando se busca um tripé com características voltadas para vídeo. Isso porque a finalidade da movimentação, ainda mais com um tripé, é efetuar movimentos suaves, vagarosos, que não causem trepidação alguma na imagem. Existe um controle que permite ajustar a força necessária para conseguir movimentar a alavanca para o movimento se processar. Ao vencer essa resistência ao deslocamento, consegue-se efetuar um movimento vagaroso e uniforme com a alavanca. Ajustando-se o controle consegue-se ajustar a velocidade desse movimento.
Para fazer isso, existem basicamente dois tipos de mecanismos na cabeça. Um deles, comum em tripés mais simples e baratos, emprega fricção e o outro, típico dos equipamentos melhores (porém mais caros) emprega fluido (óleo viscoso, de alta densidade). O primeiro é encontrado com vários nomes comerciais, como fluid-action, fluid-effect ou fluid-like. Apesar do termo “fluid” no nome, não existe fluido algum e sim um dispositivo de fricção para conferir resistência ao movimento, cuja pressão entre as partes internas pode ser ajustada. Essa solução tenta reproduzir (imitar) a ação da cabeça do tipo fluido com óleo. Apesar de poder ser lubrificado, suavizando os movimentos, os deslocamentos obtidos com este tipo de mecanismo não são tão suaves e precisos quanto os conseguidos com o mecanismo do tipo fluido.
Nas cabeças do tipo fluido a resistência oposta ao movimento efetuado pelo operador é conseguida através da utilização do óleo viscoso, forçado a trafegar por uma passagem estreita de tamanho regulável, localizada dentro do mecanismo. O mecanismo com óleo é o que proporciona dentro todos os tipos a movimentação mais suave, que se traduz na qualidade obtida na imagem.
Estas, são as características principais de um tripé, que pode possuir diversas outras variações em formas e tamanho, encontradas principalmente no meio profissional, como o chamado chapéu alto, um tripé desenvolvido para permitir o tilt da câmera para baixo em espaços pequenos, como o interior de um helicóptero, facilitando cenas aéreas. O mais importante de tudo no entanto, é ter uma idéia clara das possíveis utilizações previstas para o equipamento; vale a pena investir em um bom tripé, que será útil durante vários anos de utilização.
Uma parceria com ::Fazendo Video (texto)
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