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Tudo sobre o mundo de vídeo-produção

Globo coloca radiodifusão em xeque

Globo Play valoriza streaming com versões gratuita e paga, VoD e 4K.


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Nesta segunda-feira (26/10), véspera do maior evento de telecomunicações do país – a Futurecom – executivos da TV Globo fizeram a apresentação formal da “nova plataforma digital de vídeos” Globo Play, que consolida iniciativas lançadas nos últimos cinco anos para distribuição de conteúdo pela internet.

O serviço estará disponível a partir de 3 de novembro em São Paulo e Rio de Janeiro, permitindo assistir quase toda a programação ao vivo, além de oferecer acesso gratuito a trechos de programas. Ele também trará a opção de assinatura mensal (R$ 12,90) para quem deseja assistir programas sob demanda (VoD, na sigla em inglês), como capítulos de novelas e programas que já saíram do ar. Produções em 4K como “Dupla identidade” também poderão ser acessadas.

As transmissões ao vivo ou sob demanda não incluem filmes estrangeiros e outros programas sobre os quais a Globo não tenha os direitos para internet.

O que há de novo?  O anúncio em si não traz tantas novidades, uma vez que a emissora já tem um serviço pago sob demanda desde 2012 (globo.tv+) e respectivos aplicativos para Android/iOS/Windows Phone, sem falar nos aplicativos Globosat Play (lançado em 2014 para todas as plataformas) e Globosat Play 4K para TVs conectadas da Samsung e Sony (2015). Também já foram feitas transmissões experimentais de telejornais ao vivo.

A novidade está no posicionamento: A TV Globo está demarcando território e deixando claro que a internet pode ser um canal de distribuição tão ou mais importante que a televisão aberta tradicional. Ela assumiu a importância do streaming e dos serviços prestados pelas empresas de telecomunicações para fazer as suas produções chegarem aos espectadores independente da tela escolhida e das restrições da grade de programação.


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Mobilidade  O Globo Play unifica e incrementa soluções já testadas para fazer frente a uma infinidade de concorrentes que surgiram com a internet – como YouTube, iTunes e NetFlix – e ajudam a fracionar a audiência da emissora. Mais, ele aproveita a disponibilidade de Wi-Fi, o crescimento das redes 4G e a aproximação do 5G para garantir presença em celulares e smartphones.

Este é um assunto paradoxal, porque a televisão digital terrestre trouxe como bônus a transmissão OneSeg ou 1Seg, um versão em resolução reduzida do que vai para o ar para os televisores convencionais. Sua aplicação seria levar o sinal da TV às pequenas telas fora de casa, no ônibus, no trabalho ou no estádio. Acontece que a maioria dos fabricantes de celular ignora solenemente tal funcionalidade, porque ela aumenta os custos de produção e não é valorizada pelo usuário. Essa transmissão também não traz lucro algum para as Telcos, pois não gera tráfego de dados, logo as operadoras não têm interesse em vender estes aparelhos. E, para jogar uma pá de cal, a chegada das redes 4G deve gerar uma interferência impossível de ser filtrada, que inviabilizará de vez o OneSeg ou 1Seg.

Assim, parte da tecnologia oferecida pelo padrão ISDB-T, usado pela TV digital no Brasil, foi atropelada pelas Telcos. A radiodifusão perdeu espaço e emissoras como a Globo precisarão se curvar ao streaming.


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TV Conectada Outro ponto de ataque na estratégia do Globo Play é assumir que o televisor está se transformando numa porta aberta para qualquer distribuidor de conteúdos. A conectividade quebrou a relação direta entre Emissora de TV e Receptor de TV, e agora os fabricantes podem fazer acordos com os provedores de conteúdo e colocar os ícones para novas programações e canais que nem existem na TV aberta. Pior, podem dividir lucros com a venda de assinaturas.

Instantaneamente apareceu mais um concorrente para dividir as receitas e de novo as emissoras precisarão se curvar aos fatos. Em breve o app Globo Play também estará em alguns televisores – os acordos são individualmente com as fábricas – e permitirá ver programas sob demanda, produções em 4K e TV ao vivo (!). Sim! É possível que numa navegação pela tela de aplicativos da sua Smart TV surja o ícone da TV Globo e ao clicar você veja a programação ao vivo. Se isso acontecer, você estará pagando pelo uso do aplicativo e pela banda larga para ver algo que sempre foi gratuito. Mas quanta gente não faz isso ao comprar pacotes de TV por assinatura?

Brincadeiras à parte, mais uma vez surgem questionamentos sobre o futuro da radiodifusão. Não é exagerado imaginar que as melhorias na qualidade de serviço das operadoras, a evolução das técnicas de compressão e transmissão vídeo OTT (através de redes de dados) e, principalmente, os novos hábitos dos telespectadores, abram espaço para a navegação por aplicativos como modo prioritário para escolher o assistir na TV.

4K Há cerca de cinco anos, a TV Globo começou a estudar o uso do 4K e nos últimos três anos avançou para um processo de migração que envolve infraestruturas de estúdio, unidades móveis e centrais técnicas. É um investimento muito justificado para quem exporta novelas para dezenas de países, porque uma resolução superior aumenta a qualidade percebida pelos espectadores, mesmo em HD, e amplia a vida útil do produto.

Em meio a esta evolução, surgiu no mercado a pergunta: Se o padrão de TV Digital ainda está sendo implantado no Brasil e não contempla o 4K, quando poderemos ver estas imagens? Novamente a resposta vem das Telcos: Usem as nossas redes, elas estão sendo preparadas para suportar o 4K e muito mais! É um interesse de duas mãos, fornecedores de redes querem ampliar o volume de dados transportados, enquanto as emissoras veem nestas redes uma solução imediata para distribuir as suas produções em 4K.

Enquanto o Japão estima que a televisão em 8K começará a ser transmitida pelo ar entre 2020 e 2022 (eles não passarão pela etapa do 4K), no Brasil é provável que o 4K e o que vier pela frente tenha apenas a internet como forma de distribuição.

Com os gastos e o tempo despendido em uma nova transição, além da pressão exercida pelas empresas de telecom, apenas as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo têm potencial para receber transmissões com resolução além do HD nos próximos 10 ou 15 anos.

TV Paga Como mencionado acima, o serviço pago do Globo Play traz uma questão interessante em relação às empresas de TV por assinatura. Está claro que a cobrança existe para compensar a publicidade reduzida no VoD, mas por ser relativamente barata (R$ 12,90), pode gerar uma onda de cancelamentos nas operadoras.

Vale lembrar que a TV Globo sempre ajudou as operadoras a fecharem os seus pacotes por assinatura, porque os telespectadores poderiam assistir a líder de audiência sem os chuviscos e fantasmas da TV analógica. O cliente pagava para ver com melhor qualidade algo que era gratuito.

Sabendo que agora é possível ver a programação ao vivo no computador, smartphone, tablet e TV conectada de graça e pagar menos de R$ 15 para rever programas já exibidos, pouca gente se guiará pelo antigo argumento. Não será uma tragédia econômica, mas reafirma a tendência de que nos próximos anos as operadoras terão mais relevância ao prover redes de dados, do que ao prestar serviços de TV por assinatura.

Publicidade A TV Globo restringe a programação de suas afiliadas aos telespectadores que estão na mesma região ou estado, incluindo os comerciais. Este cuidado inclui as transmissões por satélite e visa preservar o investimento dos anunciantes regionais. Segundo as informações divulgadas hoje, o conceito deverá ser preservado no streaming ao vivo, uma vez que os moradores de São Paulo não poderão assistir aos telejornais locais do Rio de Janeiro, por exemplo.

Esta definição inicial, entretanto, não impede o surgimento de novas formas de comercialização, com pacotes específicos para as transmissões online. No caso de conteúdos sob demanda, o aplicativo que está no ar desde 2012 ignora os comerciais que foram exibidos ao vivo e obriga o usuário a ver apenas uma ou outra propaganda antes de exibir uma novela, telejornal ou humorístico.

Este abraço que a TV Globo dá no streaming é mais do que um mero avanço tecnológico, é uma decisão estratégica que envolve o futuro da TV no país. Se este futuro for o streaming, e há muitos motivos para acreditar que sim, tudo o que se disputa e discute em relação à TV estará com os dias contados.

Fonte: www.panoramaaudiovisual.com.br

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